Manoel de Barros-Mensagens e Frases



Manoel de Barros

Uma pequena homenagem a um grande poeta
Após duas semanas internado no hospital Procor de Campo Grande, o poeta nascido às margens do Rio Cuiabá faleceu na manhã desta quinta 13/11/2014 
Manoel Wenceslau Leite de Barros é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao pós- Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas  europeias do início do século e da Poesia
Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários
 entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro
 da contemporaneidade nos meios literários.

Poesia é voar fora da asa.

Por viver muitos anos dentro do mato.  Moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro - Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas  por igual
como os pássaros enxergam.

Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando.

Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.

Cristo foi um dos grandes poetas do mundo - tanto que 20 séculos já passaram por cima de suas palavras e elas são vivas e reviçadas todos os dias.

Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas. E me encantei.

O maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser.

Sou mais a palavra ao ponto de entulho. Amo arrastar algumas no caco de vidro,
envergá-las pro chão, corrompê-las, -até que padeçam de mim e me sujem de branco.

Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as 
coisas profundas. Consegui não descobrir.

No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal : Meus filhos, o dia já 
envelheceu, entrem pra dentro.

Eu via a natureza como quem a veste. Eu me fechava com espumas.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos.

Afundo um pouco o rio com meus sapatos. Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul.

Eu precisava de ficar pregado nas coisas vegetalmente e achar o que não procurava.

Quando o mundo abandonar o meu olho.
Quando o meu olho furado de beleza for esquecido pelo mundo. Que hei de fazer.

Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às
costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.

O mundo não foi feito em alfabeto. Senão que primeiro em água e luz. Depois árvore.


Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão – Antes que das coisas celestiais.

Só quem está em estado de palavra pode enxergar as coisas sem feitio.

E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?

Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.

Meu fado é de não entender quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades.

Liberdade busca jeito. Sou água que corre entre pedras. Quem anda no trilho é trem de ferro

A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela.

Me explica por que que um olhar de piedade Cravado na condição humana 
Não brilha mais que anúncio luminoso?

Meditei sobre as borboletas. Vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras,
sem magoar as próprias asas.







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