Casimiro de Abreu-Versos de Alguns dos Poemas


CASIMIRO DE ABREU



Simpatia é o sentimento que nasce num só momento, sincero, no coração; são dois olhares acesos bem juntos, unidos, presos numa mágica atração. Simpatia são dois galhos banhados de bons orvalhos nas mangueiras do jardim; bem longe às vezes nascidos, mas que se juntam crescidos e que se abraçam por fim.
Quem dera que sintas as dores de amores que louco senti; Quem dera que sintas... Não negues, não mintas, eu vi!
Simpatia, meu anjinho, é o canto de passarinho, é o doce aroma da flor; são nuvens dum céu d’agosto é o que m’inspira teu rosto … Simpatia é quase amor...
Te vejo sempre em meus sonhos.
E que outra mulher além de você
ha de abrilhantar os meus sonhos?
Ó querida estou de volta,
venho-te um abraço dar;
Enxuga teus lindos olhos
se minha que eu sei-te amar.
Ai! um sorriso que se desprendesse dos
lábios formosos daquela virgem,
mataria de amores um homem!
Um olhar meigo e terno que brilhasse 
por entre aquelas pestanas aveludadas,
venceria o mundo!
A velhice tem gemidos,
- A dor das visões passadas -
A mocidade - queixumes,
Só a infância tem risadas!
Tu es formosa e modesta,
As outras são tão vaidosas!
Embora vivas na sombra
Amo-te mais do que às rosas.
Ah! Mulher! que tão depressa
esqueceste um homem que te ama
para ouvires os galanteios 
doutro que te cobiça!...
“Pelo sol que brilha agora, 
“- Eu juro dar-te, Maria, 
“Quarenta beijos por dia 
“E dez abraços por hora!”
Oh! nessa idade da paixão lasciva
Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.
Depois o sol, como sultão brilhante,
De luz inunda o seu gentil serralho,
E às flores todas - tão feliz amante -
Cioso sorve o matutino orvalho.
Oh que céu, que terra aquela,
Rica e bela
Como o céu de claro anil!
Que seiva, que luz, que galas,
Não exalas
Não exalas, meu Brasil!
Distante do solo amado
— Desterrado —
A vida não é feliz.
Nessa eterna primavera
Quem me dera,
Quem me dera o meu país!
Não sabes que a flor traída
Na débil haste pendida
Em breve murcha será?
Que de ciúmes fenece
E nunca mais estremece
Aos beijos que a brisa dá?...
A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!
Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar
Se eu tenho de morrer na flor dos anos
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
— Minha mãe a sorrir olhou pr'os céus
E respondeu: — “ Um Ser que nós não vemos
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão! meu filho, é — Deus!”—


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